Os mitos e as lendas do Monte Saint-Michael
Segundo a lenda, uma enorme onda de maré, varreu esta área transformando completamente o seu aspeto no começo do século VIII. A partir da Idade Média, a ilha ficou dedicada ao culto do arcanjo São Miguel, no ano de 708 e na sequência de diversas visões, o bispo Aubert, mandou uns mensageiros ao Monte Gargano com o intuito de voltar com determinados objetos sagrados (um pedaço de seu manto vermelho, e um fragmento do altar onde este tinha colocado os pés), a fim de santificar o rochedo e os seus estabelecimentos. Por cada século passado desde então, os prédios foram ganhando tamanho e grandeza, atingindo assim a sua estatura atual. A secção principal da estrutura é orientada a 26 graus para norte a mesma orientação que a da Catedral de Notre Dame em Paris. Esta orientação pode ser seguida em ambas as direções, criando um alinhamento com o lugar onde São Miguel terá enfrentado Lúcifer.
O monte Saint Michel é por si só um lugar misterioso, muito rico em lendas populares. Diz-se que na antiguidade existia no cume do monte uma cripta com a imagem de Notre Dame Sous Terre (Nossa Senhora das Terras Baixas), o que é na realidade uma Cristianização de velhos mitos que falavam sobre as estranhas qualidades do subsolo daquela região. Segundo uma lenda Celta, viviam ali umas mulheres inicialmente denominadas Ko-rridwenou, que mantinham a estabilidade do local graças a encantamentos e ritos realizados nos menires e dolmens que havia nessa península. Está muito enraizada na região, a crença de que durante a Idade Media o Santo Graal foi escondido nesta abadia, é inclusive mencionado, que este local era utilizado para as reuniões secretas dos Cavaleiros Templários. Uma compilação de contos do século XII por exemplo, fala de uma cobra gigantesca que devorava rebanhos, peregrinos e moradores sem defesa, em ataques noturnos sem dó nem piedade, e só após uma noite inteira de novenas a são Miguel a população encontrou a cobra imóvel aos primeiros raios de sol com a cabeça decepada ao lado de uma espada de aço e de um pequeno escudo ali abandonados pelo misterioso guerreiro. Talvez um conhecido Arcanjo… E no livro do Apocalipse, capítulo 12-parágrafos 7-9, está a narrativa da batalha entre as forças do Céu e do Demónio, com o grande dragão, e a antiga serpente, chamada de Diabo de Satanáz . Armado de lança e espada, o arcanjo São Miguel travou uma terrivel batalha que venceu acabando com o dragão vermelho do demo, essa e milhares de outras histórias vão sendo eternizadas com o misticismo do Monte Saint-Michel.
Desde os tempos pagãos mais remotos, a ilhota montanhosa onde hoje se eleva o mosteiro de Saint-Michel, bem como toda a região que a circunda, era considerada território sagrado pelos antigos Celtas. Inúmeros menires e dolmens de pedra de grandes dimensões ainda hoje podem ser vistos, espetados no solo daquelas terras. Por volta do seculo VIII, o Cristianismo instalou-se no topo do monte, com a construção de uma primeira cripta, feita de blocos de granito sobrepostos. Desde então, a história do Monte Saint-Michel tem tido uma sucessão de períodos de grande brilho intelectual e religioso, de crises internas, de guerras, de demolições e reconstruções do imenso complexo de edifícios que constituem a abadia e o mosteiro. Naquele período da Idade Média, o culto a São Miguel começava a propagar-se em toda a Europa. Acreditava-se que os lugares mais altos, como o cimo das montanhas, lhe pertenciam. Sob a inspiração de Saint-Aubert, bispo de Abranches, 12 monges instalaram-se na cripta: salmos, devoções coletivas e mortificações marcavam o seu cotidiano, foi o que bastou para que um mundo de lendas e histórias milagrosas algumas falsas, outras verdadeiras se formassem ao redor do Monte Saint-Michel. Muitas foram transformadas em crónicas e relatos pelos próprios monges. No ano de 966, a área do mosteiro aumentou consideravelmente, graças às contribuições financeiras dos grandes senhores da Normandia, da Bretanha, da Itália e da Inglaterra. Além das atividades devocionais, os monges passaram também a estudar, copiar e iluminar manuscritos, transformando-os em preciosas obras de arte, as iluminuras, muito diferente do que aconteceu depois, quando a Igreja passou a proibir a abordagem de uma série de temas, naqueles tempos Medievais os religiosos tinham o consentimento e a liberdade para estudar e pesquisar quase tudo: literatura, história, ciência e filosofia. Em Saint-Michel foram copiados, por exemplo, os famosos tratados de Aristóteles.
Como em todos os outros grandes sítios do catolicismo, a arquitetura grandiosa tinha a finalidade de agradar a Deus, aos sacerdotes e aos peregrinos. Desde o início, o santuário de Saint-Michel atraiu centenas de milhares de devotos. Com as suas ofertas, elas contribuíram para a prosperidade do vilarejo e da comunidade monástica, até o final do século XVIII o Monte Saint-Michel fez parte de uma poderosa cadeia de metas maiores da peregrinação, em pé de igualdade com Roma, Jerusalém e Santiago de Compostela. A fama de lugar milagroso, depositário de inúmeras relíquias de santos, atraia milhares de peregrinos em busca da salvação e de milagres.
Mas nem só de milagres é feita a história do lugar, ela está repleta de relatos de acidentes e catástrofes. No ano 922 um incêndio destruiu boa parte da aldeia e do mosteiro. Em 1103, uma grande parte da nave central da abadia desabou. Em 1203 deu-se um novo incêndio que arrasou o mosteiro, foi a sua reconstrução que fez surgir uma estrutura arquitetónica de inspiração gótica cuja extraordinária beleza a tornou conhecida em todo o mundo como “A Maravilha”. Mas os acidentes continuaram, só em 1318, 13 peregrinos morreram pisados pela multidão, 18 afogaram-se no mar e 12 desapareceram nos bancos de areias movediças que surgem quando a maré baixa e permite a travessia a pé do continente até a ilha. Infelizmente a nossa visita não foi muito demorada mas permitiu perceber um pouco de toda a magia que envolve esta relíquia da história, da arquitetura e da mitologia e é sem dúvida um lugar ao qual gostaríamos de regressar, enquanto isso não acontece limitamo-nos a estudar e a pesquisar informações que nos permitam perceber melhor toda a aura de misticismo que envolve tão belo e magico lugar…
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