Calouste Gulbenkian Museum, Lisbon, Portugal
Material: Acrylic ink and pastel on canvas
Collection: Calouste Gulbenkian Foundation, Modern Collection
Inv.: 85P1193
ABOUT THE WORK
MAPAS E O ESPÍRITO DA OLIVEIRA foi realizada em 1984 num atelier improvisado na Rua Borges Carneiro em Lisboa, juntamente com outras pinturas e desenhos em lona, como suporte. Ainda nesse ano, foram apresentadas no Brasil, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, e, no ano seguinte, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
A partir de uma grande superfície, opção que Graça Morais explora nas suas obras sensivelmente desde 1982, a artista dá primazia ao traço e à linha para construir esta composição pictórica centrada em duas figuras em primeiro plano.
Se olharmos atentamente, rapidamente nos apercebemos dos múltiplos traços subjacentes que compõem as figuras principais. Esta justaposição de figuras cria diferentes camadas e leituras, nomeadamente a figura feminina camuflada pelos traços que definem a representação de uma vaca.
Em 1981, Graça Morais teve oportunidade de ver os estudos preparatórios da obra Guernica de Picasso. Embora esse momento tenha sido preponderante para a artista, não é possível extrapolar se esta pintura tem reminiscências na obra do artista catalão, embora seja possível estabelecer alguns paralelismos.
Mapas e o Espírito da Oliveira revela por um lado a heterodoxia na escolha do suporte – um dos suportes utilizados pela artista a par da utilização da seda – e por outro a importância do desenho, desenho esse discordante da aplicação da cor.
Inês Gomes
Fevereiro 2015
BIOGHRAPHY
Graça Morais nasceu a 17 de Março de 1948 no Vieiro, pequena localidade de Trás-os-Montes. O local que a viu nascer e crescer torna-se determinante para as vivências da artista, revelando-se um local de memórias e eternos retornos na sua obra plástica.
O gosto pelas artes plásticas revela-se muito cedo na vida da artista, ainda durante a frequência da escola primária.
Quando termina o Liceu em Bragança, decide ingressar no curso de Pintura na Escola Superior de Belas-Artes do Porto (ESBAP).
Em 1971, no último ano do curso, faz juntamente com outros colegas, uma viagem pela Europa passando por Londres, Paris e Amsterdão. Esta sua primeira viagem marca-a profundamente. A artista contacta pela primeira vez com obras de arte internacionais, numa época em que Portugal, ainda sob o regime ditatorial do Estado Novo, se encontrava fechado em si mesmo e com pouco acesso a notícias ou influências internacionais. Segundo a própria artista: «a bem dizer, foi esse o meu primeiro contacto a sério com as obras de arte. Até aí, vivera muito das reproduções que vinham em livros de arte, ou de exposições que via no Porto».* A sua primeira viagem desperta-a para novas concepções artísticas que se revelarão mais tarde na sua obra plástica.
Esteve em Paris entre 1976 e 1978, como bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian, período que coincide com a criação do Grupo Puzzle constituído por nove artistas e um crítico de arte (Graça Morais, Albuquerque Mendes, Armando de Azevedo, Carlos Carreiro, Dario Alves, Gerardo Burmester, Fernando Pinto Coelho, Jaime Silva, João Dixo e Egídio Álvaro). O Grupo Puzzle expõe em diversos locais, dentro e fora do país, fazendo performances e instalações e, em 1977, participa numa exposição no Salon de la Jeune Peinture.
No fim da bolsa, Graça Morais realiza uma exposição no Centro Cultural de Paris da Fundação Calouste Gulbenkian apresentando um conjunto de obras subordinadas à temática da caça figurando, entre outras, a obra intitulada A Magia na Caça (inv. 78P432).
Regressada de Paris, Graça Morais divide os anos seguintes entre Guimarães e Lisboa. Em 1984 recebe um novo subsídio da Fundação Calouste Gulbenkian para desenvolver um trabalho sobre a sua terra natal em Trás-os-Montes.
Graça Morais, através de uma pesquisa antropológica e recolha etnográfica, reabilita e integra na sua obra plástica a arte popular do Nordeste de Portugal, enaltecendo uma certa ruralidade.
A obra de Graça Morais gravita em dois polos axiais: por um lado, o universo masculino associado à virilidade e dominação; por outro, o universo feminino ligado a uma certa sensibilidade e luta pela sobrevivência. A artista questiona o papel da mulher, uma vivência humana marcada por uma certa secundarização na comunidade rural, muito embora a artista lhe atribua um papel determinante. A associação à mulher enquanto vítima repercute-se metaforicamente aos animais, também eles segundo a concepção da artista, vítimas de uma violência exercida por uma sociedade ancestral.
Através do cruzamento de imagens e sobreposição de materiais, Graça Morais desenvolve assim um trabalho sensorial e ancestral assente nas vivências humanas e a sua relação com a natureza. Memórias que se misturam com aspectos biográficos, reflectindo as suas experiências pessoais não só da sua terra natal, esse ‹‹Reino Maravilhoso›› designado por Miguel Torga, mas também extensível a outras geografias, como é disso exemplo Cabo Verde, local que Graça Morais viveu no final dos anos 80, resultando um importante trabalho pictórico e a fundação da editora cabo-verdiana Ilhéu Editora, da qual será sócia fundadora.
Graça Morais construiu o seu atelier no Vieiro, onde vive e trabalha. Em 2008 foi fundado o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, em Bragança, com a missão não só de promover a obra da artista mas divulgar a arte contemporânea nacional e internacional.
* Cf. António Mega Ferreira, Graça Morais: Linhas da Terra, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985, p.62.
Inês Gomes
Novembro 2014
SOURCE: Calouste Gulbenkian Museum